3 de novembro de 2014

Antecipação de faturas de cartão de crédito dispara e ameaça pequenas

O volume de concessões de crédito para antecipação de faturas de cartão aumentou em 25,7% no acumulado de setembro deste ano em relação ao ano passado e, diante do momento econômico, coloca em xeque a saúde financeira das pequenas empresas.
Com a queda da atividade econômica, principalmente no setor varejista, as firmas de menor porte estão se desdobrando para conseguir capital de giro e evitar descasamento de caixa.
A dificuldade em obter empréstimos e financiamentos, impostas pela maior seletividade dos bancos, que estão restringindo a oferta de crédito, por sua vez, reduz o leque de possibilidade das pequenas, que acabam recorrendo às linhas de antecipação de recebíveis, como desconto de duplicatas e antecipação de faturas de cartão, para fechar no azul.
"As pequenas empresas não têm taxas de juros tão atrativas frente aos bancos quanto as grandes. Os bancos exigem tanta garantia e existe tanta burocracia que elas acabam recorrendo à antecipação de recebíveis, que é de fácil acesso", observou o coordenador do curso de Ciências Econômicas do Centro Universitário Newton Paiva, Leonardo Bastos.
Segundo dados do Banco Central, enquanto em setembro de 2013 o volume de concessões para antecipação de faturas de cartão no acumulado de 12 meses estava em R$ 34,3 bilhões, no acumulado de setembro fechou em R$ 43,2 bilhões
Ticket médio
Balanço referente aos resultados do terceiro trimestre da Cielo mostra a antecipação de recebíveis pela empresa teve um crescimento de 66% em relação ao terceiro trimestre do ano passado, saltando de R$ 243,8 bilhões para 404,7 bilhões.
De acordo com o presidente da credenciadora, Rômulo Dias, o ticket médio da antecipação – valor antecipado pelo empresário – caiu e, atualmente, está em R$ 2,5 mil. "Mas, há operações bem menores, se o lojista tem essa opção, ele aproveita a oportunidade", observou o presidente da Cielo.
A queda do valor do ticket médio mostra que um aumento da quantidade de lojistas usando esta linha de crédito.
Os especialistas ouvidos pelo DCI apontaram que, além da maior restrição ao crédito e da queda da demanda por produtos, a falta de planejamento por parte das pequenas empresas as deixas mais vulneráveis em tempos de crise.
O uso recorrente das linhas de antecipação de recebíveis, de acordo com eles, é um sinal dessa falta de preparo.
Falta de planejamento
O economista do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) Alexandre Galvão ressaltou que, diferentemente das grandes, as firmas de menor porte trabalham com capital de giro reduzido, ficando mais vulneráveis à instabilidade econômica. "As pequenas empresas são mais dependentes dos sócios", observou.
Bastos ponderou que as pequenas, concentradas principalmente no comércio, têm três principais formas de pagamento: dinheiro, cartão de débito e cartão de crédito. "Dos três meios, o cartão de crédito é o único que não tem liquidez imediata", observou.
Como grande parte das compras, no entanto, é feita no cartão de crédito, parte dos ativos da empresa fica comprometida – uma vez que entrarão no caixa das firmas somente nos próximos meses -, enquanto os passivos são recorrentes. O descasamento entre as receitas e as despesas, portanto, forçam os comerciantes a antecipar os recebimentos futuros.
Galvão apontou a sazonalidade como outro motivo que pode ter levado ao aumento da antecipação de recebíveis. "Em setembro e outubro, as empresas começar a formar estoques para o fim do ano", avaliou.
Segundo os especialistas, não há previsão de melhora na atividade econômica – ou seja, o consumo não deve aumentar – e a tendência é que o cenário fique ainda pior, de forma que as empresas passem a antecipar ainda mais os recebíveis.
"A tendência para o ano que vem é que haja uma mortalidade de micro e pequenas empresas até maior que a taxa deste ano, que já é grande. O ano que vem tende a ser bem sombrio", prevê Bastos.
Alta de juros
Na quarta-feira, o Banco Central subiu a taxa básica de juros para 11,25% ao ano. Para os especialistas, a alta da Selic, que baliza as demais taxas do sistema financeiro, dificultará ainda mais o acesso ao crédito e colocará em xeque a sobrevivência das empresas.
"As empresas mais organizadas vão crescer em cima das outras. O mercado fica mais seletivo e centralizado nas firmas mais competitivas. As companhias que conseguirem se organizar ficarão menos vulneráveis", disse Galvão.
 
DCI

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