3 de março de 2015

O desânimo dos pequenos

Com a hashtag #BemMaisSimples estampada em um imenso painel no salão principal do Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff e o ministro da Micro e Pequena Empresa, Guilherme Afif Domingos, lançaram na manhã da quinta-feira 26 um sistema que acaba com a burocracia na hora do fechamento de empresas. “Por muito tempo, sempre foi comum ouvir a frase: ‘No Brasil, é impossível fechar uma empresa’”, afirmou Dilma. “A partir de agora, a baixa do CNPJ passa a ocorrer na hora.” A medida, clamada há décadas pelo setor produtivo, chega num momento oportuno, em que o cenário econômico negativo tende a aumentar o índice de mortalidade das companhias.
O aperto fiscal, a pressão de custos e a alta nos juros tendem a desaquecer ainda mais a economia, deixando os micro e pequenos empresários numa situação vulnerável. Uma pesquisa do Datafolha para o Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo (Simpi), publicada com exclusividade pela DINHEIRO, mostra que o pessimismo está predominando no setor. Apenas 18% das empresas investiram nos últimos 12 meses e quase um terço declara que a capacidade de gerar lucro está ruim ou péssima. “No ano passado, as micro e pequenas indústrias paulistas fecharam 277 mil postos de trabalho”, diz Joseph Couri, presidente do Simpi.
“O horizonte não é promissor.” Com faturamento anual de R$ 370 mil, o microempresário Marcos Aurélio Bassanezi levou um susto com a deterioração do ambiente econômico. Em 2013, ele ampliou a estrutura da loja e da minifábrica de pufes, em Osasco, na Grande São Paulo. Ele projetava um crescimento de 20% nas vendas para 2014, mas acabou colhendo uma retração de 10%. “Meus custos dispararam e eu reduzi de quatro para dois a minha equipe de funcionários”, afirma Bassanezi. A situação dramática também é vivenciada pela Tec Stam, uma pequena indústria de parafusos, porcas e arruelas situada no bairro da Mooca, na zona leste da capital paulista.
O endividamento de seus clientes mais fiéis e a queda na demanda reduziram em 10% o faturamento da empresa no ano passado, que foi de R$ 3 milhões. “É a pior crise de todas que enfrentamos, desde 1993”, afirma Humberto Gonçalves, sócio-gerente da Tec Stam, que teve de reduzir de 50 para 33 o número de funcionários nos últimos dois anos. Essas “micro demissões” em todos os setores da economia explicam o aumento do índice de desemprego de 4,8%, em dezembro, para 5,3%, em janeiro. Segundo o IBGE, foi a primeira vez, desde o início da série histórica em 2002, que caiu o número de vagas com carteira assinada.
Outro ponto detectado pela pesquisa Datafolha é a forte concorrência de produtos importados que, segundo 74% dos empresários, atrapalham os seus negócios. “A alta do dólar é a esperança de um alívio para o produto nacional”, diz Couri, do Simpi. “Mas quem possui contrato de insumos no exterior terá uma alta no custo até que a empresa encontre um fornecedor local.” Com tantos desafios pela frente, a esperança dos mais de seis milhões de pequenos empreendedores espalhados pelo País é não precisar desfrutar dos benefícios do #BemMaisSimples.
Fonte: IstoÉ Dinheiro
 

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