15 de abril de 2015

R$ 12 bilhões para quitar dívida e antecipar compromissos

Ao contrário de anos anteriores, em que os recursos da devolução iam para o consumo, em 2015 o dinheiro servirá para colocar as contas em dia
Pagar dívidas atrasadas, liquidar empréstimos pesados e antecipar compromissos. E, em menor medida, consumo e investimento. Esta é a percepção de economistas sobre o destino que o contribuinte deverá dar aos pelo menos R$ 12 bilhões que o Fisco vai devolver neste ano referentes às receitas federais arrecadadas em 2014, quando atingiram R$ 1,188 trilhão. "O destino desses recursos, assim como os do 13º salário, precisa ser sempre analisado pela ótica do momento da economia", explica o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini.
Ele lembra que nos períodos de expansão econômica, com estímulos tentadores para a aquisição de bens e serviços, a restituição do Imposto de Renda no bolso dos contribuintes serviu para acelerar o consumo e o crescimento. Pelo menos foi isso que vinha ocorrendo até os primeiros meses de 2014, quando cerca de 12,3 milhões de contribuintes receberam R$ 15,5 bilhões da Receita Federal referentes a R$ 1,138 trilhão arrecadado em 2013.
Mas, em virtude de um cenário de encolhimento do Produto Interno Bruto (PIB) como o atual, de corte de empregos, de aumento contínuo das taxas de juros e de disparada da inflação, é, de acordo com Agostini, muito mais provável que o dinheiro do primeiro lote da restituição da declaração do ano base 2014, a ser liberado a partir de 15 de junho, seja direcionado para quitar dívidas, ou até mesmo para guardá-lo para períodos mais críticos.
"Diferentemente dos anos anteriores, quando grande parte dos recursos da restituição do Imposto de Renda e do 13º era direcionada para o consumo de bens e serviços, o momento é de cautela. Daí que acredito que a maior parcela será direcionada a honrar compromissos ou até mesmo a arriscar alguns investimentos", reafirma o economista da Austin Rating.
O assessor econômico da Fecomercio-SP, Fabio Pina, concorda com Agostini. Para ele, o consumo de bens e serviços neste ano ficará em terceiro plano. "Apesar de não termos levantamentos que indiquem o destino dos recursos da restituição, acredito que, na atual conjuntura, a maior parte das pessoas não está pensando em se endividar", diz o economista. Entretanto, Pina avalia que menos de um terço do montante do dinheiro a ser devolvido neste ano deverá ser direcionado ao comércio.
Embora recomende cautela na hora do consumo, Pina diz não ver nenhum problema se o contribuinte que se encontra em situação melhor, sem endividamento e com emprego garantido, fizer "certa extravagância" com o dinheiro que vai embolsar. "Não vejo nenhum problema nisso. Mas aquele que está em situação complicada, até porque nem todo mundo está no mesmo trem, precisa ser mais racional, mais cauteloso com o que pretende consumir", alerta.
Agostini lembra ainda que a recente onda de saques da caderneta de poupança, que atingiu R$ 23,23 bilhões no primeiro trimestre, montante igual ao captado em todo o ano passado, é um sinal claro de que o brasileiro quer se proteger. E o primeiro passo nessa direção é liquidar dívidas e evitar juros altos. É bom ressaltar que, no primeiro semestre do ano, há um acúmulo de compromissos e vencimentos dos quais o contribuinte não consegue fugir, como o IPVA, o IPTU e o aumento da mensalidade escolar, entre outros.
Se, por um lado, os setores do comércio e de serviços deixarão de abocanhar parte dos R$ 12 bilhões que a Receita vai injetar na economia via restituição, por outro, o contribuinte estará mais bem preparado e com as contas em dia para o momento em que a economia do país entrar no rumo certo, segundo Agostini. Se o ajuste fiscal proposto pelo governo passar no Congresso, 2016 poderá mostrar um ligeiro crescimento, quantitativo, frisa ele, não qualitativo.
Fonte: DCI / Vladimir Goitia
 

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