27 de abril de 2015

MPEs seguem na contramão da crise ao ampliar atuação com a tecnologia

Necessidade de reduzir custos por parte do mercado e capacidade de adequação do empreendedor surgem como fatores preponderantes para o sucesso durante um momento ruim
O cenário de crise que torna o ambiente de negócios mais complicado para grande parte das empresas brasileiras também pode gerar uma série de oportunidades para algumas micro e pequenas (MPEs), que nasceram como startups, cresceram e continuam em expansão em 2015.
Um exemplo é o caso da Betalabs. Especializada em sistemas integrados de gestão empresarial, os chamados ERP (da sigla em inglês), ela oferece soluções sob medida na nuvem e plataformas de e-commerce de alta performance. Fundada em 2011, a desenvolvedora de sistemas dobrou o faturamento em 2014 – de R$ 2 milhões para R$ 4 milhões – e aumentou o corpo de funcionários em 50%, chegando a 40 pessoas.
Para o sócio fundador da Betalabs, Felipe Cataldi, a época difícil para as empresas foi um dos fatores que possibilitou tal crescimento. "Em momentos de crise, a área de gestão empresarial se aquece por conta da necessidade que os empresários têm de exercer um controle maior de custos. Eles compram o software para evitar o vazamento de recursos", explica.
O ERP é um sistema de alta complexidade responsável pela integração dos dados de diferentes departamentos de uma empresa, otimizando o fluxo de informação e reduzindo processos e custos operacionais. "O serviço embute a licença de software e a manutenção. E como o software funciona na nuvem, o empresário pode acessar o sistema de qualquer dispositivo com internet, ganhando o benefício da acessibilidade", argumenta Cataldi.
Corte de gastos
Reduzir despesas também é a palavra de ordem entre os clientes que contratam a plataforma de e-commerce. "O varejo on-line tem se expandido porque também é uma alternativa em um momento menos acelerado, já que a loja virtual diminui custos operacionais", completa Cataldi. Em 2014, as negociações via internet registraram um aumento de 24% em relação ao ano anterior, totalizando uma receita de R$ 35,8 bilhões, segundo a E-bit, entidade que estuda o setor.
Uma tendência semelhante foi um dos fatores responsáveis pelo crescimento da agência digital Cyrk, que apresentou crescimento de 200% em 2014, na comparação com o ano anterior. A empresa é responsável pela penetração de grandes marcas em ambientes digitais, como as redes sociais, e tem na carteira clientes como Bradesco, Honda, Havaianas e Cacau Show.
"O marketing digital é muito bem visto em momentos de crise, porque o custo não é tão alto quanto o da publicidade off-line", conta o diretor da Cyrk, Antônio Mafra. Segundo ele, o orçamento de uma campanha convencional pode custar até dez vezes mais que uma digital que impacte o mesmo número de pessoas.
Entre as campanhas desenvolvidas pela Cyrk no último ano está a incursão do Bradesco na rede social de negócios LinkedIn. "O grande desafio é tornar a comunicação pertinente, sem ser invasiva. Fizemos todo um estudo da ferramenta, do público, para inserir a marca de forma natural, sem a venda de produto. Falamos muito de empreendedorismo e educação financeira. O número de seguidores cresceu de forma orgânica, de 20 mil para 79 mil", conta Mafra.
Adaptação
A experiência de já ter superado momentos difíceis no passado também é importante em alguns casos. É o que conta o diretor executivo da desenvolvedora de aplicativos e soluções mobile 01 Digital, Guilherme Coelho. "Nós surgimos em 1996, na primeira onda da internet, antes do estouro da bolha. Desde lá sobrevivemos a momentos de crise."
A empresa já prestava uma série de serviços digitais à uma carteira de clientes quando a onda dos aplicativos mobile começou, em 2009. A 01 Digital viu uma oportunidade de negócios e começou uma transição de nicho gradual, como relata Coelho. "De 2009 a 2012 nós conseguimos virar quase que completamente. Nos sentimos como uma startup novamente, com a vantagem de já ter contatos e receitas."
Totalmente voltada ao ramo de desenvolvimento de apps, a empresa se especializou no segmento infantil – outra área em contínua expansão. Em 2014, impulsionados pelo sucesso do aplicativo da personagem Galinha Pintadinha, a 01 Digital cresceu 80% em relação ao ano anterior e faturou R$ 5 milhões em 2014.
Para 2015, as expectativas seguem audaciosas. "Queremos dobrar de tamanho e não acreditamos que será difícil", confessa o executivo. Entre os planos de expansão está a incursão no mercado latino-americano. A empresa já abriu um escritório na Argentina e mira Chile e México. Os países de língua inglesa também estão no radar.
A 01 Digital ainda planeja ações mais ousadas. "O Zeca Baleiro lançou seu primeiro conteúdo infantil através de nossos aplicativos", conta Coelho. "O digital era vilão; hoje é a principal alternativa."
Aplicativo quer ganhar o mundo
"Nós paramos de ter clientes corporativos que pagavam altas somas para termos milhares de clientes que me pagam 99 centavos por dia", explica Guilherme Coelho, da 01 Digital. Isso porque a transação de conteúdo através dos aplicativos infantis desenvolvidos pela empresa é o ponto-chave do modelo de negócios, visto que a publicidade infantil segue vedada por lei.
Chamado de best-seller pelo executivo, o app da Galinha Pintadinha é o líder de downloads: já foram realizados mais de 15 milhões. "Estamos lançando em lojas do mundo inteiro.  Já tem Galinha Pintadinha em inglês e espanhol, conta Coelho. "Ela é campeã em todos os meios digitais. E tudo isso sem TV."
Fonte: DCI – SP  /  Henrique Julião

 

 

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