14 de janeiro de 2016

Brasil amarga o título de país pouco auditado

A sociedade brasileira, no último ano, ficou a par de diversos escândalos de corrupção e fraudes financeiras, que culminaram com a prisão de políticos e executivos de grandes companhias. A atuação de contadores e auditores poderia minimizar consideravelmente o número de fraudes contra órgãos públicos e empresas.
“Devemos lembrar que toda a discussão sobre fraudes, fragilidade e abuso dos órgãos públicos na demonstração dos resultados foi iniciada justamente pelo fato de uma empresa de auditoria não validar e não assumir os resultados apresentados com flagrante falta de critérios éticos”, lembra o presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo (CRC-SP), Gildo Freire de Araújo.
No entanto, no Brasil, esses profissionais ainda são pouco requisitados. Para se ter uma ideia, o País tem um auditor independente para grupo de 24.615 habitantes. Número bem superior ao de países da Europa e até mesmo da vizinha Argentina, que tem um profissional para grupo de 13.205 pessoas (veja arte acima). A tendência, porém, é que, aos poucos, essa realidade comece a mudar. “No Brasil, as empresas são pouco auditadas e isso contribui para ineficiências e fraudes”, destaca Marcos Sanches, sócio-diretor da TG&C Auditores. Outro dado que chama a atenção é que no Brasil inteiro temos cerca 560 mil contadores para um universo de quase 5,5 milhões de organizações.
“Sempre que acontecem escândalos dessa magnitude busca-se aperfeiçoar os mecanismos de controle e revisão, para evitar a repetição dos fatos. Assim as atividades de auditoria interna ou externa ganham maior importância nesses períodos, por contribuírem para maior segurança e confiabilidade das informações que são geradas e divulgadas pelas empresas por meio das demonstrações contábeis”, considera o vice- presidente de desenvolvimento profissional e institucional do Conselho Federal de Contabilidade, Zulmir Breda.
Em termos globais, lembra ele, também há experiências neste sentido. No início dos anos 2000, por exemplo, os Estados Unidos passaram por escândalos envolvendo diversas companhias norte-americanas, resultando na aprovação de leis mais severas, como a Lei Sarbanes-Oxley, de 2002, que, entre outras medidas de proteção aos investidores, criou o Public Company Oversight Board (PCAOB) para supervisionar a contabilidade das empresas daquele país. No mesmo período, os organismos profissionais da área contábil norte-americana editaram novos normativos para a área de auditoria, dando ênfase à questão do ceticismo profissional no trabalho dos auditores independentes.
As normas internacionais de auditoria – ISAs, na sigla em inglês – passaram também por um processo de revisão, a partir de 2004. E, em 2009, o Brasil convergiu as suas normas de auditoria para o padrão internacional. Assim, desde aquele ano, as empresas de auditoria brasileiras estão praticando as mesmas normas de auditoria que estão em vigor nas maiores economias do mundo. Além disso, a implementação da Lei Anticorrupção no Brasil, em vigor desde o início de 2014, visa contribuir para inibir o processo de corrupção por parte das empresas brasileiras ao impor responsabilização objetiva, civil e administrativa da empresa que praticar o ato lesivo. “Todos esses mecanismos legais vieram para reduzir a ocorrência de fraudes e corrupção nas empresas”, afirma Breda.
“Justamente porque a corrupção tem sido mais exposta nos últimos tempos, há um movimento em direção à ética”, considera o ex-presidente do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas no Estado de São Paulo (Sescon-SP), Sérgio Approbato Machado Júnior.
Para especialistas, as fraudes ocorrem, normalmente, em decorrência de três fatores: oportunidade, racionalização e a crença de que a fraude não será detectada. Estabelecer políticas de governança, bons controles internos e monitorar de forma ativa as transações, especialmente as de cunho financeiro, são fundamentais para minimizar as ações contra as companhias e o próprio governo. “Neste sentido, o contador tem papel essencial na redução da possibilidade de fraudes nas empresas, já que está em uma posição que permite revisar as transações da companhia como um todo, verificando se são consistentes com as decisões estratégicas tomadas e verificando se variações poderiam ser potenciais indicadores de erros ou fraudes cometidos pelos funcionários”, destaca Adriano Correa, sócio da área de Advisory da BDO.
“Auditores e contadores têm papel fundamental para a sociedade, já que fornecem uma fotografia da companhia de um determinado momento e dão transparência para todas as informações da empresa ou do órgão público”, destaca o presidente do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil. (Ibracon), Idésio Coelho. “A contabilidade é uma ferramenta. Ela não garante que a empresa ou o órgão público fará certo, mas ajuda a expor o que está errado”, finaliza Coelho.
DCI

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