20 de janeiro de 2016

FMI amplia previsão de queda do PIB para 3,5%

O Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou ontem uma drástica redução nas previsões para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deste ano e do próximo, que deve influenciar até mesmo a decisão sobre a taxa básica de juros, a Selic, do Comitê de Política Econômica (Copom) do Banco Central (BC). O relatório Perspectivas Econômicas Mundiais de janeiro aponta retrações de 3,5% no PIB neste ano e nulo em 2017, ante queda de 1,0% e alta de 2,3%, respectivamente, na previsão anunciada em outubro.
A manutenção da crise política e os desdobramentos da Operação Lava Jato, que investiga desvios de dinheiro da Petrobras, são apontados como fatores “não econômicos” que levam à persistência da crise nacional. Mais ainda, o Brasil é citado no relatório como um dos fatores que levam à redução de 0,2 ponto percentual na expectativa para o PIB mundial em 2016 e 2017, que passa a ser estimado em alta de 3,4% neste ano e de 3,6% no próximo.
No cenário global, também contribuíram para a piora nas previsões a desaceleração da atividade econômica na China, os efeitos da tendência de alta nas taxas de juros nos Estados Unidos e as menores cotações das commodities no mercado internacional, principalmente do petróleo, que afeta países do Oriente Médio e Rússia.
A expectativa é que o gigante asiático cresça 6,3% neste ano e 6,0% no próximo. Para o petróleo, cujo preço já diminuiu 47,1% em 2015, a retração deve ser de 17,6% em 2016 e somente em 2017 deve voltar a recuperar valor, com alta de 14,9%.
A avaliação negativa do FMI para o País fez com que o presidente do BC, Alexandre Tombini, divulgasse nota na qual avaliou como significativas as revisões. “Todas as informações econômicas relevantes e disponíveis até a reunião do Copom são consideradas nas decisões do colegiado”, citou. Para analistas, a declaração incomum em véspera de reuniões indica que o colegiado deve repensar a tendência de alta na Selic para manutenção em 14,25% ou alta de 0,25%, ante a até então previsão de 0,50% (leia nesta página).
AJUSTE FISCAL
O presidente do Sindicato dos Economistas de Londrina, Ronaldo Antunes, considera que os aumentos de juros já não têm o efeito esperado sobre a inflação nacional. Ele afirma que mais importante, no momento, é a dominância fiscal, que é quando a balança de gastos e receitas do governo fica tão desequilibrada que a elevação de taxas de juros nada resolve e paralisa o setor produtivo. “Enquanto não se acertar a situação das contas públicas, a elevação de juros apenas aumenta as despesas com a dívida pública e não tem efeito sobre a inflação.”
Por outro lado, o delegado em Londrina do Conselho Regional de Economia (Corecon), Laércio Rodrigues de Oliveira, cita o risco de fuga de dólares do Brasil. “Acredito que ainda teremos alguns reajustes na Selic porque os EUA acenam com a alta de juros por lá e, se o BC não der estímulos para a compra de títulos por aqui, podemos ter uma fuga de capital estrangeiro para lá”, conta. O Copom deve anunciar a decisão sobre a Selic no início da noite de hoje.
Crise política
A projeção do FMI de queda do PIB brasileiro de 3,5% neste ano mesmo depois da provável retração de 3,8% em 2015 não é exagerada, dizem os economistas. Com a queda de braço entre o governo Dilma Rousseff e a Câmara Federal, que ficou para ser resolvida apenas no fim do primeiro trimestre de 2016 com a decisão acerca do impeachment, o Brasil ficará em compasso de espera por um quarto do ano.
“Para aprovar qualquer medida, reforma ou aumento de imposto para ter receita, é necessária a aprovação do Congresso, que está em recesso e só vai decidir em março sobre o impeachment”, diz Antunes. Ele acredita que desta vez, porém, a decisão será rápida. “Com a crise se aprofundando, a sociedade passa a cobrar uma solução em vez da troca do governo”, completa Antunes.
Para o delegado do Corecon, o PIB brasileiro somente poderá ter resultado melhor do que o previsto se surpreender em exportações, o que é difícil. “O governo Dilma até fez certo em estimular os acordos comerciais com Estados Unidos e União Europeia, porque a China vem consumindo menos, mas isso é algo que demora para dar resultado.”

Fonte: FolhaWeb

Comentários

Deixe um comentário

Icon mail

Mantenha-se atualizado

Cadastre-se e receba nossos informativos