20 de janeiro de 2016

Nota do Banco Central muda apostas sobre alta de juro

Na véspera da decisão do Banco Central sobre a taxa de juros, uma nota do presidente do órgão, Alexandre Tombini, gerou surpresa e críticas no mercado, alterando as apostas sobre o rumo da política monetária na primeira reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) em 2016.
Logo depois de Tombini afirmar em nota que considerava “significativas” as novas projeções do FMI (Fundo Monetário Internacional) indicando piora no cenário econômico brasileiro, o mercado passou a prever um aumento de 0,25 ponto percentual na taxa Selic, hoje de 14,25%, e não mais de 0,50.
Alguns analistas, que classificaram a nota como “quebra da tradição” do BC de não se pronunciar nos dias de Copom, passaram a prever até a possibilidade de a taxa ficar inalterada.
Ao citar a previsão do FMI de recessão de 3,5% neste ano no Brasil, a nota de Tombini diz que “todas as informações econômicas relevantes e disponíveis até a reunião do Copom são consideradas nas decisões do colegiado”.
PLANALTO
O documento gerou uma reação imediata do mercado, que não só mudou suas apostas sobre a decisão desta quarta (20) como levantou suspeitas de que o BC procurou um “pretexto” para adotar uma posição mais em linha com o Palácio do Planalto, que prefere manter os juros inalterados para evitar mais abatimento econômico.
Na segunda­feira (18), a avaliação dentro do Palácio do Planalto era que o BC deveria, sim, subir os juros, mas as expectativas apontavam para um aumento “mínimo”, de 0,25 ponto percentual.
A avaliação foi feita por assessores presidenciais, acreditando que a piora do cenário externo e seu reflexo sobre as projeções de crescimento do país levaria o BC a optar pelo menor aumento possível.
Ontem, o Planalto informou que não comentaria o relatório do FMI. Reservadamente, assessores consideraram que a nota do BC estava na linha correta, de buscar ancorar as expectativas do mercado para um ajuste monetário compatível com um agravamento da crise internacional, mas que o “timing” acabaria gerando questionamentos.

MEDO DE REBOTE
Havia receio no governo de que a reação negativa do mercado à nota de Tombini levasse o Banco Central a subir a taxa Selic hoje em 0,50 ponto percentual para tentar mostrar independência em relação à presidente Dilma Rousseff.
O tom das críticas elevou­se com rumores de que o presidente do BC havia se reunido com a presidente Dilma na noite de segunda­feira. Analistas diziam que a nota do BC após a suposta reunião jogavam por terra todo o trabalho recente da instituição para recuperar sua credibilidade, abalada durante o primeiro mandato da petista.
Tanto o Planalto como o BC negaram o encontro.
Segundo analistas, a nota de Tombini, um dia antes de o BC definir a nova taxa de juros, foi uma tentativa atrapalhada do órgão de corrigir as expectativas do mercado, que apontavam majoritariamente para um aumento de 0,50 ponto percentual.
VALE O ESCRITO
Embora manifestações do BC sobre juros na véspera do Copom sejam raras, a instituição afirma que não violou nenhuma regra escrita e que agiu de maneira inédita diante de um fato também inédito: a drástica revisão das projeções de crescimento do país feita pelo FMI.
A instituição afirma que o mercado iria especular de qualquer maneira sobre a forma como o relatório poderia ser interpretado pelo BC. Por isso, Tombini decidiu se antecipar e publicar um posicionamento logo após a divulgação do FMI.
Fonte: Folha de São Paulo
 

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