9 de fevereiro de 2016

Em ambiente econômico global incerto, grandes empresas adotam cautela

Depois de um fim de ano duro, as grandes empresas dos Estados Unidos estão começando 2016 com um rígido controle sobre os gastos de capital e, em alguns casos, fazendo cortes de pessoal, num esforço para lidar com a fraca demanda industrial e as incertezas com relação à contínua resiliência do consumidor americano.
Um punhado de grandes companhias, de gigantes do setor de produtos médicos como a Johnson & Johnson até a fabricante de cigarros Altria Group Inc. e o portal de internet Yahoo Inc. anunciaram nas últimas semanas planos de demitir cerca de 14 mil empregados. Outras, como a empresa ferroviária Norfolk Southern Corp. e a petrolífera Chevron Corp., estão reduzindo seus planos de gastos.
“Nós sabemos que esse é um cenário difícil para se falar de crescimento”, disse o diretor­presidente da Norfolk Southern, James Squires, recentemente a investidores. “É por isso que estamos tão concentrados nas reduções de custos.”
A abordagem cautelosa indica que os executivos continuam preocupados à medida que o dólar forte e o crescimento fraco em mercados emergentes afetam suas vendas em outros países; e a queda no mercado acionário e receios sobre uma desaceleração da economia estremecem a confiança de investidores e consumidores nos EUA, apesar de dados positivos no mercado de trabalho e no setor de habitação.
Os consumidores americanos — o baluarte da economia do país — estão emitindo sinais mistos: os dados do governo em dezembro trouxeram informações decepcionantes sobre o consumo e vendas no varejo, mas empresas como a Starbucks Corp., Ford Motor Co. e Nike Inc. continuam a registrar fortes vendas no mercado interno. A Starbucks, porém, prevê que terá um primeiro trimestre mais fraco, enquanto o avanço da Ford foi prejudicado por temores de que as vendas de veículos tenham se estabilizado.
“Os EUA estão basicamente dependendo de um setor para gerar a maior parte do crescimento, que é o consumo”, diz Joseph LaVorgna, economistachefe nos EUA do braço de pesquisa do banco alemão Deutsche Bank. “Quando você não tem amplitude, você está vulnerável a um choque.”
De modo geral, as empresas no índice S&P 500 se caminham para anunciar um total de lucros ajustados para o quarto trimestre 4,1% menores que um ano antes e queda de 3,5% nas vendas, de acordo com a Thomson Reuters. Isso marcaria dois trimestres consecutivos de encolhimento dos lucros, algo que ocorre pela primeira vez desde 2009, e quatro trimestres seguidos de vendas em queda.
Grande parte do declínio geral se deve ao abatido setor de petróleo, que deve divulgar uma queda de 75% nos lucros e de 35% nas vendas do quarto trimestre em relação a um ano antes, pela previsão da Thomson Reuters. Chevron, BP PLC e a ConocoPhillips já divulgaram grandes perdas no período.
Excluindo as petrolíferas, estima­se que os lucros ajustados das empresas do S&P 500 cresçam 2,1%, com um aumento nas vendas de apenas 0,9%. Os lucros ajustados, dado amplamente usado por analistas de investimentos, excluem custos e ganhos considerados incomuns ou não essenciais para as operações principais das empresas.
Preocupações sobre a desaceleração do setor de manufatura não é algo novo. Mas o crescimento econômico fora do setor de manufatura, como o medido pelo Instituto de Gestão de Oferta (ISM, na sigla em inglês), desacelerou em janeiro, atingindo o ritmo mais lento em quase dois anos, de acordo com a consultoria britânica Oxford Economics, ligada à Universidade de Oxford. E estima­se que vários setores apresentem lucros menores, como o de alimentos básicos e de serviços públicos, segundo a Thomson Reuters. Também espera­se que haja uma pausa no crescimento dos lucros no setor de tecnologia.
No geral, os consumidores têm dado um apoio estável à economia, à medida que os preços de energia caem e o crescimento nos mercados emergentes titubeia. E as empresas de produtos de consumo citaram sinais de que os americanos estão mais inclinados a pagar um pouco mais por produtos novos, de marca e de maior qualidade. A Procter & Gamble Co. divulgou aumento de 2% nas vendas orgânicas, o que inclui aquisições. No trimestre anterior, elas haviam caído 1%. A empresa afirmou que os concorrentes estavam concentrando seus esforços em produtos novos e mais caros em vez de reduzir preços para conquistar negócios.
Poucos executivos estimam um crescimento significativo no próximo ano e estão reagindo com um recuo nos investimentos. Com quase um terço das empresas do S&P 500 já tendo divulgado seus resultados para o quarto trimestre até o início da semana passada, os gastos de capital mostram um aumento de 6,2% em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo Howard Silverblatt, analista sênior de índices da S&P Dow Jones Indices. No quarto trimestre de 2014, as empresas divulgaram mais que o dobro de aumento nos gastos de capital de 13,9%, embora de grande parte da desaceleração se deva às empresas de petróleo, de acordo com Silverblatt.
Num exemplo da cautela adotada pelas grandes empresas, a siderúrgica U.S. Steel Corp. informou que vai se concentrar em vários projetos menores. “São projetos que oferecem muito menos risco e geram retornos e benefícios muito mais rápido”, disse Dan Lesnak, executivo de relações com investidores da U.S. Steel, em uma teleconferência de resultados no dia 27 de janeiro. “Este não é um ambiente propício para lançar projetos gigantescos”.
Valor Econômico
 

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